“Naquele dia, sendo já tarde, disse-lhes Jesus: Passemos para a outra margem. E eles, despedindo a multidão, o levaram assim como estava, no barco; e outros barcos o seguiam. Ora, levantou-se grande temporal de vento, e as ondas se arremessavam contra o barco, de modo que o mesmo já estava a encher-se de água. E Jesus estava na popa, dormindo sobre o travesseiro; eles o despertaram e lhe disseram: Mestre, não te importa que pereçamos? E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Acalma-te, emudece! O vento se aquietou, e fez-se grande bonança. Então, lhes disse: Por que sois assim tímidos?! Como é que não tendes fé? E eles, possuídos de grande temor, diziam uns aos outros: Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” (Mc 4.35-41).
INTRODUÇÃO: Jesus Cristo contou a parábola dos “dois fundamentos” para ensinar a respeito da diferença que há entre quem obedece e quem ignora suas leis ou vontade (Mt 7.24-27), e essa diferença é testada justamente na hora em que surge a tempestade da vida, bem ilustrada na “chuva que cai, no rio que transborda e no vento que sopra” com ímpeto ou “sem dó nem piedade” (Mt 7.27).
Por essa história, e pela nossa experiência de vida, é possível afirmarmos que as tempestades, entre outras verdades, sempre são violentas, imprevisíveis e fogem ao nosso controle. Portanto, o que se requer de cada um de nós, entre outros, é um comportamento espiritual ou prudente na hora em que formos assaltados por ela. Na experiência dos discípulos no Mar da Galileia, Deus nos ensina, por meio da análise das três perguntas (duas dos discípulos e uma de Cristo) que aparecem dos versos 38 ao 41, o que exatamente devemos pensar, falar e fazer quando formos atingidos pelas tempestades da vida.
Proposição: Deus não está alheio às nossas lutas e tribulações, mas se confiarmos Nele nessas horas, vamos ter experiências inéditas com Ele.
1. O QUE DEUS FAZ QUANDO ESTAMOS ENFRENTANDO AS TEMPESTADES DA VIDA?
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Marcos escreveu que depois de ensinar as multidões, por meio de inúmeras parábolas (Mc 4.33-34), Jesus Cristo decidiu ir à outra margem do Lago de Genesaré e deu ordens aos discípulos para tomar a embarcação (Mc 4.35), mas assim que avançaram mar à dentro: “… levantou-se grande temporal de vento, e as ondas se arremessavam contra o barco, de modo que o mesmo já estava a encher-se de água” (Mc 4.37). Então nessa hora de desespero os discípulos questionam a Jesus dizendo: “Mestre, não te importa que pereçamos?” (Mc 4.38).
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Vejamos como outras traduções da Bíblia descrevem este trecho: “Mestre não te importa que morramos?” (NVI); “Mestre, vamos morrer! O senhor não se importa?” (NVT); “Mestre, não vais fazer nada? Nós vamos morrer!” (BM); “Mestre, você não se importa que estamos perecendo?” (Amplified Bible – em livre tradução). Como vimos, todas a versões dizem basicamente a mesma coisa, e a interrogação dos discípulos faz eco com a nossa, porque vez por outra, no meio de uma luta da vida, questionamos a Deus sobre seu socorro, ou temos a impressão de que Ele está indiferente ao nosso sofrimento.
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De fato, não sabemos lidar com o silêncio de Deus quando as coisas ruins da vida nos atingem, como: doença, desemprego, problemas no casamento ou família, calamidades (ex: enchentes, terremotos etc.), greves ou má gestão governamental, entre outras. Quando o barco estava sendo açoitado pelas ondas, a ponto de ir a pique, a Bíblia diz que: “Jesus estava na popa, dormindo sobre o travesseiro…” (Mc 4.38). Este fato destaca o lado humano do Senhor Jesus, que depois de atender as multidões o dia todo, sentiu cansaço e dormiu.
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Podemos crer que Jó também questionou ou estranhou o silêncio de Deus durante sua provação (Jó 31.15). Maria e Marta também devem ter estranhado a “demora” de Jesus em ir ao socorro do seu irmão moribundo (Jo 11.6). Curiosamente o texto diz que Jesus dormia na “popa” da embarcação. Essa é a parte traseira, onde fica o leme ou o controle do barco. Isso nos ensina que Deus não é ansioso como nós (pois na tempestade Ele nos manda relaxar – Sl 46.10), e que por mais que pareça difícil, nada foge ao seu absoluto conhecimento e controle.
2. COMO DEUS ESPERA QUE REAJAMOS DIANTE DAS TEMPESTADES DA VIDA?
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Marcos escreveu que no desespero os discípulos despertaram Jesus e na mesma hora Ele: “repreendeu o vento e disse ao mar: Acalma-te, emudece! O vento se aquietou, e fez-se grande bonança” (Mc 4.39). Semelhantes palavras Jesus já havia dito antes, quando expulsou um demônio de um homem numa sinagoga (Mc 1.25), dá a impressão de que aquela tempestade foi levantada por forças malignas (ex: Jó 1.19), a fim de impedir o Mestre de chegar na terra dos gerasenos, onde haveria de libertar um homem terrivelmente endemoninhado (Mc 5.2).
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Seja como for, Jesus Cristo repreendeu os discípulos com a seguinte pergunta: “Por que sois assim tímidos?! Como é que não tendes fé?” (Mc 4.40). Outras versões das Escrituras trazem este trecho como segue: “Por que vocês estão com tanto medo? Ainda não têm fé?” (NVI); “Por que é que vocês são assim tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?” (NTLH); “Por que tanto medo? Vocês não têm fé?” (BM). Com essa repreensão o Senhor está dizendo como quer que reajamos na hora das tempestades da vida.
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O medo é o irmão gêmeo da dúvida, e esta por sua vez, é a genitora da incredulidade. Deus quer que rechacemos o medo (Js 1.9), na hora da provação ou tribulação. Fazemos isso tirando os olhos da tempestade e focando-os em Jesus, Autor e Consumador da nossa fé (Hb 12.2). Para Jairo, na hora mais difícil da sua vida, Jesus disse: “Pare de temer e continue crendo” (Mc 5.36). Confiar em Deus nas horas difíceis da vida é o maior desafio do crente (ex: Mt 8.8-10).
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Promessas como a que segue: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28), devem estar em nossa mente na hora das tempestades da vida. Outra possível tradução deste texto diz: “Sabemos que Deus faz com que todas as coisas…”. No caso de Jó, sua provação lhe permitiu crescer e conhecer a Deus de forma mais profunda (Jó 42.5), e das irmãs Marta e Maria, de ter o seu irmão ressuscitado e ver inúmeros judeus salvos (Jo 11.43-45).
3. NAS TEMPESTADES DA VIDA TEMOS A OPORTUNIDADE DE CONHECER A DEUS UM POUCO MAIS
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Diante da poderosa reação do Senhor Jesus, que fez a fúria dos elementos (o vento e as ondas) cessarem imediatamente, os discípulos exclamaram: “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” (Mc 4.41). O espanto deles se deu porque: “O vento aquietou-se, fez-se grande bonança” (v. 39). Foi um milagre instantâneo, e agora eles estão “possuídos de grande temor” (v. 41), mas não é um medo ruim, e sim um temor reverente, porque Deus estava ali com eles no barco.
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A terceira pergunta contida na presente experiência dos discípulos aparece traduzida da seguinte forma numa versão moderna: “Que homem é este que manda até no vento e nas ondas?” (NTLH). Eles percebem, por meio deste feito de Jesus, que Ele não era mero operador de milagres, mas o Messias de Deus, Aquele que deu a “voz” ou Palavra de comando na obra criadora (“haja luz” – Gn 1.3). Mais tarde, João disse o seguinte Dele: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3).
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Esse feito inédito chama a atenção dos discípulos, como quando Jesus andou sobre as águas, numa situação semelhante (Mt 14.25). Portanto, as tempestades da vida não fogem ao controle soberano de Deus, e quando Ele permite algo ou situação sobre a qual não temos controle, como ocorreu com Jó, é porque deseja nos ensinar lição nova, ou se revelar a nós de maneira diferente. Jó, depois de ter sido provado, pôde dizer: “Antes eu te conhecia só por ouvir falar, mas agora eu te vejo…” (Jó 42.5). Deus lhe falou do meio da tempestade (Jó 40.6).
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Por intermédio do profeta Oséias, Deus nos convida a conhecê-lo cada vez mais: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor…” (Os 6.3), e por meio do profeta Jeremias, Ele nos diz como isso pode ser possível: “Se me buscarem de todo o coração, me encontrarão. Serei encontrado por vocês…” (Jr 29.13-14 – NVT). Do mesmo modo que Jesus Cristo se manifestou de forma surpreendente aos discípulos, Ele também promete se manifestar a nós se o amarmos e guardarmos seus mandamentos (Jo 14.21 – “…aquele que me ama […] eu o amarei e me manifestarei a ele”).
CONCLUSÃO:
O sábio escreveu o seguinte a respeito da tempestade na vida do ímpio e na do justo: “As tempestades da vida levam embora o perverso, mas o justo tem alicerce duradouro” (Pv 10.25 – NVT). Portanto, além das tempestades da vida serem temporárias (2Co 4.17), seus efeitos destruidores não são vistos na vida daqueles que fundamentam suas atitudes na obediência à vontade de Deus descrita em sua Palavra. Além disso, o episódio revela que mesmo estando “perto” de Jesus, ou sem fazer nada errado (como Jó), ainda assim estamos sujeitos a enfrentar lutas de todo tipo, mas isso não quer dizer que Deus estará alheio ou que não irá nos socorrer quando clamarmos.
Pastor Walter Bastos