“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14.21).
INTRODUÇÃO:
Milhares de pessoas seguiam a Jesus Cristo em razão, principalmente, das suas manifestações de compaixão; Mateus, por exemplo, escreveu que: “Desembarcando, viu Jesus uma grande multidão, compadeceu-se dela e curou os seus enfermos” (Mt 14.14). Mas o que Jesus promete aqui no texto em estudo é diferente, tem a ver com uma manifestação mais pessoal, intima (ex: Mt 10.27), profunda, mas que depende de obediência voluntária à sua vontade revelada (Jo 14.24).
Carecemos da preciosa assistência do Espírito Santo (Rm 8.26) para obedecermos a Deus da maneira que Ele deseja ser obedecido, ou seja, com verdadeiro amor ou devoção, então precisamos nos render a Ele completamente (Gl 5.16; Ef 5.18), e assumir o compromisso diário de leitura bíblica e da oração é, sem dúvida, um bom começo (Jd 1.20).
Proposição: Ser íntimo de Jesus depende de maturidade espiritual, de fazer da Sua vontade um estilo de vida.
1- COMO DEUS QUER SER AMADO POR SEUS FILHOS?
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Jesus responde a esta questão com a seguinte afirmação: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama…” (v. 21). A Bíblia não tem apenas promessas, mas está permeada de ordens, regras, preceitos que revelam a vontade de Deus em todos os aspectos. Por exemplo, no capítulo anterior, Jesus determinou: “Novo mandamento vou dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei…” (Jo 13.34). Precisamos amar (a Deus e ao próximo) de maneira sacrificial.
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Como vimos, o primeiro passo para quem deseja amar a Deus com sincera devoção é conhecer seus santos mandamentos (“aquele que tem os meus…”) e o caminho mais curto para isso passa pela leitura meditativa das Escrituras, como aconselha o salmista: “Antes o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite” (Sl 1.2). Precisamos entesourar em nossos corações a vontade revelada de Deus, pois isso nos ajuda a viver em santidade (Sl 119.11).
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Alguns versos antes do texto em estudo, Jesus Cristo já tinha dito: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14.15). Então toda questão aqui está relacionada com a prova do nosso amor a Deus, e não tem nada a ver com mero sentimento de querer bem, mas com atitude, com determinação concreta de obediência. Quando fazemos da vontade de Deus o nosso estilo de vida (comportamento diário), Jesus comprova isso dizendo: “esse é o que me ama”.
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Podemos afirmar que os mandamentos de Cristo incluem toda a sua doutrina e não somente ordenanças relacionadas com valores éticos (ex: não fazer juízo temerário – Mt 7.1-5), por exemplo: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16.24). Se de fato Cristo tornou-se o Senhor das nossas vidas isso se refletirá em nossa obediência amorosa a sua Palavra: “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?” (Lc 6.46).
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Um tipo de líder dos últimos tempos, que não “faz a vontade do Pai” (Mt 7.21), porque mantem uma “vida sem regras (bíblicas)”, quer ser aceito por Deus pelo que realiza em Sua obra (Mt 7.22), mas será rejeitado por Jesus, pelo fato Dele não o reconhecer ou conhecer (Mt 7.23). Diferente desse religioso, a Bíblia diz que: “…O Senhor conhece os que lhe pertencem…” (2Tm 2.19), Deus o conhece porque sente o seu amor manifestado na obediência aos seus mandamentos.
2- A RESPOSTA DE DEUS AO AMOR DOS SEUS FILHOS
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Na continuidade do texto Jesus afirmou: “…e aquele que me ama será amado por meu Pai…” (v. 21). Portanto, haverá reciprocidade, Deus irá corresponder de alguma forma maravilhosa à nossa amorosa obediência. Precisamos entender que a afirmação “será amado por meu Pai”, não tem nada a ver com o amor que Deus demonstrou a toda humanidade em Cristo (Jo 3.16), porque Ele nos amou quando ainda éramos pecadores (Rm 5.8), mas tem a ver com a intensidade do Seu amor por quem correspondeu a sua vontade obedecendo.
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Em outras palavras, Jesus está dizendo que iremos avançar, progredir em nosso relacionamento de amor com Deus. Isso nos permitirá experimentar ou aprofundar nossa comunhão com o Pai, e Ele irá compartilhar conosco da sua abundante graça (ex: “segredos do reino dos céus – Mt 13.11). Deus ocultou inúmeros mistérios espirituais dos “sábios e entendidos”, mas Ele tem prazer em revela-los aos seus filhos obedientes, segundo a vontade de Jesus (Mt 11.25-27).
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O salmo 128 é um excelente exemplo do que Deus faz por aquele que “teme ao Senhor e anda nos seus caminhos” (v. 1). Será vida financeira ou material, casamento e família, ministério e saúde física (longevidade) sempre abundante. Isso não quer dizer que não sofrerá com algum tipo de luta ou perseguição, mas que poderá contar com a presença ativa de Deus, Ele sempre estará ao seu lado. Era justamente isso que o salmista Davi tanto almejava (Sl 27.4).
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Paulo parece falar de uma sutil distinção, feita por Deus, em relação aos crentes que o amam de verdade; vejamos: “Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido por ele” (1Co 8.3). É muito interessante como a Bíblia Amplificada em inglês verteu este texto; vamos conferir em livre tradução: “Mas se alguém ama a Deus verdadeiramente [com carinhosa reverência, pronta obediência e grato reconhecimento de Sua bênção], ele é conhecido por Deus [reconhecido como digno de Sua intimidade e amor, e ele é de propriedade Dele]”.
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Alguém afirmou sabiamente que a recompensa de quem busca a Deus é o próprio Deus. “Conhecer e prosseguir em conhecer a Deus” é o convite do Espírito Santo para quem deseja uma vida significativa (Os 6.3), mas obediência prática é a condição básica para isso. Foi Deus quem prometeu: “Se me buscarem de todo o coração, me encontrarão. Serei encontrado por vocês, diz o Senhor” (Jr 29.13-14/ NVT). Esse encontro produz intimidade, envolvimento verdadeiro.
3. JESUS PROMETEU SE MANIFESTAR A QUEM O AMAR DE VERDADE
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No final do texto Cristo faz a seguinte promessa aos que decidem amá-lo obedecendo aos seus mandamentos: “…e eu também o amarei e me manifestarei a ele” (v. 21). No verso 23 o Mestre revela a fonte dessa manifestação: “e viremos para ele e faremos nele morada”. Jesus estava se referindo ao Espírito Santo que ainda não havia sido dado a Igreja, e que deveria permanecer com ela “todos os dias” (Jo 14.16); além de ajudá-la a se “…lembrar de tudo…” (Jo 14.26).
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O que ocorre quando Deus se faz presente ou decide se revelar a nós de forma mais pessoal? Esta resposta pode ser extraída do verbo grego manifestar (“emfanizo”) empregado por Jesus Cristo, que significa: “revelar, manifestar, tornar visível. A apresentação numa forma clara e conspícua (visível)” (Vida Nova; 1995; p. 185). Pode ser um tipo especial de revelação, como a que Paulo teve, que lhe permitiu ir ao Paraíso e ouvir “palavra inefáveis” (indescritíveis – 2Co 12.4).
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A expressão “eu me manifestarei a ele” é sem dúvida uma promessa maravilhosa, e tem a ver com a Sua presença de um modo mais forte ou constante. A Bíblia Amplificada em inglês pode nos ajudar a entender isso melhor; vejamos parte final do texto em livre tradução: “e eu [também] o amarei e me mostrarei (revelar, manifestar) para ele. [Vou deixar-me ser claramente visto por ele e me farei real para ele]. Ouviremos sua voz de maneira mais “audível”, digamos assim.
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Jesus Cristo é a Palavra “encarnada” (Jo 1.1), por isso Ele também se manifesta aos seus filhos amados, de uma forma mais explicita, atendendo ao seguinte clamor: “Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei” (Sl 119.18). Deus já havia prometido, por meio do profeta Jeremias, que poderia nos revelar “coisas grandes e ocultas”, que não sabemos (Jr 33.3). Cremos que as circunstâncias ideais para isso são apresentadas no texto em estudo.
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Em resumo, a expressão “me manifestarei a ele”, significa que Jesus irá se revelar ou se fazer conhecido. O reino de Deus está dentro de nós (Lc 17.20-21), portanto, essa revelação é de caráter espiritual, comunicada ao nosso espírito (Rm 8.16). Isso quer dizer que o Senhor vai nos permitir conhecê-lo mais de perto (por meio da sua Palavra). Da mesma forma que não “abrimos o coração” para qualquer um, assim ocorre em relação a Jesus, se passarmos confiança para Ele, então não se intimidará de nos mostrar sua glória (Êx 33.17-23).
CONCLUSÃO:
O texto em estudo revela o princípio de que “toda promessa bíblica sempre é precedida por uma exigência ou mandamento divino”. Se correspondermos à vontade revelada de Deus, obedecendo com amor aos seus ensinamentos (vivendo em santidade), Jesus prometeu se manifestar de forma pessoal. Ele vai falar conosco “face a face” (Nm 12.8), com o fim de nos orientar, ensinar, fortalecer, livrar e também consolar. Obedecer a Deus da maneira que Jesus fala neste texto só é possível para quem conhece a Deus, e em razão disso Ele fará questão de mostrar que também nos conhece. No tempo de Jesus havia pessoas que acreditavam obedecer aos mandamentos das Escrituras (Mc 10.20), mas no final se comprovou apenas havia uma espécie de obediência cega/ religiosa. A outra forma de obedecer a Deus é apresentada no texto em estudo, sustentada no amor a Ele, neste caso a obediência ocorre naturalmente, alegre e feliz.
Pastor Walter Bastos