“Procura dentre o povo homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; põe-nos sobre eles por chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez” (Êx 18.21); “Aproximando-se os dias da morte de Davi, deu ele ordens a Salomão, seu filho, dizendo: Eu vou pelo caminho de todos os mortais. Coragem, pois, e sê homem! Guarda os preceitos do SENHOR, teu Deus, para andares nos seus caminhos, para guardares os seus estatutos, e os seus mandamentos, e os seus juízos, e os seus testemunhos, como está escrito na Lei de Moisés, para que prosperes em tudo quanto fizeres e por onde quer que fores; para que o SENHOR confirme a palavra que falou de mim, dizendo: Se teus filhos guardarem o seu caminho, para andarem perante a minha face fielmente, de todo o seu coração e de toda a sua alma, nunca te faltará sucessor ao trono de Israel” (1Rs 2.1-4).
INTRODUÇÃO:
Os modelos de “homem banana” (ex: dominado pela mulher/ subserviente), e “homem machão” (ex: pouco gentil e dominador), são dois extremos muito conhecidos e rejeitados pela maioria da sociedade, mas neste início de século, e de maneira geral, o homem moderno esqueceu ou perdeu a referência do que realmente significa ser um “homem de verdade”. Porque alguns acreditam que ser viril ou másculo é encarar esportes “radicais” (ex: mergulho em alto mar), e outros é manter vida sexual “acima da média”. Mas afinal o que de fato significa ser “homem com H maiúsculo?”.
Antes de tudo precisamos definir algumas palavras. O famoso Dicionário Michaelis, explica os termos como segue: 1. Viril: “Relativo ou próprio do homem, do varão; varonil. Dotado de vigor e coragem”. 2. Masculinidade: “Atributo de masculino ou másculo”. 3. Machismo: “Orgulho masculino em excesso; virilidade agressiva; ideologia de supremacia do macho que nega a igualdade de direitos para homens e mulheres”. Diante do exposto, afirmamos que o homem cristão não pode se conformar com o modelo de masculinidade preconizado pelo “sistema” (mundo sem Deus – Rm 12.2), mas deve conhecer e se adequar ao modelo do “homem de verdade”, baseado na pessoa de Jesus Cristo (At 2.22), claramente descrito nas Escrituras.
Proposição: A maturidade espiritual põe em destaque a masculinidade do homem de Deus por meio das virtudes de caráter que apresenta.
1. O MUNDO SEM DEUS PERDEU A NOÇÃO ORIGINAL DA MASCULINIDADE DO HOMEM
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Especialistas do comportamento humano revelam que a sociedade atual não tem um modelo definido de “homem de verdade”, porque, entre outros, rejeita padrões absolutos (em detrimento do relativismo). Por exemplo, de maneira geral, há em nossos dias pelo menos cinco tipo de homens: 1. “Metrossexual” – derivado de “metrópole + sexual”, homem urbano, muito vaidoso, excessivamente preocupado com a aparência física (beira o narcisismo, p. ex., se depila, pinta unhas, faz sobrancelhas, não dispensa uso de cremes para pele etc.).
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Em seguida vem o: 2. “Retrossexual”, derivado de “retrogrado + sexual”, sujeito tradicional nas vestimentas (não segue modas), e de maneira geral age sem “frescuras” (ex: não cuida muito da aparência), não sendo necessariamente grosso ou machista. Na sequência figura o chamado: 3. “Uberssexual”; derivado do alemão “Über” (super; máximo) + “sexual”, seria a “mistura” dos dois modelos anteriores. Alguém que se cuida fisicamente, mas com moderação.
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O próximo da lista é conhecido por: 4. “Lumbersexual”, derivado de “lumberjack” (lenhador) + “sexual”, homem de aparência rustica, como os lenhadores americanos. Barba grande, cabelo curto, camisa xadrez, botas e calça jeans, enfim, tudo combinando para parecer “másculo ou viril”. Por último tem o: 5. “Tecnossexual”, que a grosso modo seria a união das palavras “tecnologia” + “sexual”, e fala do homem moderno que se preocupa com a saúde física ou de manter boa aparência, mas sua atenção e energia é quase toda voltada para o mundo tecnológico, digital, som e imagem (aplicativos etc.).
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Como vimos, esses modelos de homem (secular) dos nossos dias não estão, necessariamente, baseados em princípios morais de caráter ou comportamento, mas principalmente no aspecto estético, em alguns casos a pessoa quer parecer mais másculo ou viril. Todavia, a Bíblia não dá tanta importância para isso (na verdade até adverte – 1Jo 2.15-17), Deus apenas quer que o homem seja de fato homem no modo de se vestir (Dt 22.5), usar seu cabelo (1Co 11.14), e sobretudo em relação aos seus atos no dia a dia (ex: com responsabilidade).
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O homem perdido, resultado da chamada pós-modernidade, não segue padrões absolutos, por isso aceita submeter-se a papeis que não foram originalmente destinados a ele pelo Criador, até mesmo aquilo que deforma a sua personalidade ou imagem masculina é passivamente aceito (ex: ser “dono de casa” enquanto sua esposa trabalha fora ou traz o sustento – Gn 3.17-19; 1Co 7.33-34), em razão disso algumas esposas não respeitam mais seus maridos como líder do lar.
2. O CONCEITO BÍBLICO DO HOMEM DE VERDADE
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O primeiro exemplo de um homem bíblico que poderia ter o título de “homem nota dez”, vem do patriarca Jó, porque foi o próprio Deus quem teceu o seguinte comentário a respeito dele: “…Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal” (Jó 1.8). Mais uma vez se destaca as qualidades de caráter (ex: íntegro e reto), que em alguns casos se formam depois de severas mudanças.
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Há duas expressões usadas por Paulo que comunicam muito bem a ideia do homem bíblico que Deus deseja que sejamos: 1. “…na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos” (1Co 14.20). 2. “…portai-vos varonilmente” (1Co 16.13). Tanto uma como outra destacam a maturidade, porque agir como criança é o mesmo que de maneira ingênua, crédula, inconsequente, irresponsável entre outras atitudes que não combinam com um “homem de verdade”.
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A expressão “homens de verdade” foi cunhada por Jetro, quando aconselhou Moisés, seu genro, em relação às qualidade que deveria buscar nos homens que o auxiliariam no cuidado do povo (Êx 18.21). Outras versões da Bíblia traduziram-na como: “homens honestos” (NVT); “homens dignos de confiança” (NVI); “homens íntegros e incorruptíveis” (BM); “homens seguros” (BJ). Essas definições nos dão uma ideia mais profunda do perfil moral do verdadeiro homem.
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Em suma, um “homem de verdade” é sempre aquele que combina palavra com ação, ou que tem uma só palavra (Mt 5.37), por isso quando firma um compromisso, o cumpre prontamente (em todas as áreas, por exemplo no: ministério, casamento, negócios etc.), não é tagarela e nem murmura em tempos difíceis, mas encara os fatos da vida com humildade e mansidão, debaixo de muita oração. Homem de verdade também chora, principalmente seus pecados (Mt 5.4).
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Quando o rei Davi disse a Salomão, seu filho: “…sê homem!” (1Rs 2.2), não estava querendo dizer: “seja macho, viril, atraente, bonito, elegante ou bem arrumado”, mas “tenha coragem (que é a capacidade de controlar o medo) e encare os desafios da vida sem esmorecer (se apoiando ou obedecendo a Deus, porque é isso mesmo que ele diz nos versículos seguintes – vv. 3-4). Salomão era jovem (cerca de 20 anos), então Davi tratou sério com ele. Muitos homens jovens vivem a síndrome “Peter Pan” (ex: Michael Jackson), ou a crise do “Nem, Nem” (nem trabalha e nem estuda), e precisam “cair na real”.
3. REAPRENDENDO A SER HOMEM DE VERDADE COM DEUS
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Sobre esse fato, o sábio escreveu o seguinte: “Eis o que tão-somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” (Ec 7.29). Outras versões da Bíblia trazem as palavras em destaque como segue: “os homens justos (…) intrigas” (NVI); “serem justos (…) todo tipo de maldade” (NVT); “simples e direitos, mas nós complicamos tudo” (NTLH). Portanto, foi o afastamento lento e progressivo do homem do seu Criador (desde Adão), que bagunçou (e continua bagunçando) a sua personalidade.
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O homem longe de Deus não é feliz, por isso em sua rebeldia contra o Senhor, procura a “tal felicidade”, ou o sentido da sua existência, entre outros, submetendo-se a todo tipo de experiência pecaminosa ou má, porque a palavra “astúcias” é a mesma no original hebraico (“chem”), que foi traduzida em Genesis 6.5 e 8.21 por “mau desígnio da imaginação do homem”. Portanto, somente no próprio Deus, o homem poderá ser restaurado à sua condição original (At 17.28; Cl 1.16-17).
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Por isso Deus enviou Jesus Cristo (Jo 3.16), para salvar e restaurar o homem à Sua imagem e semelhança novamente (Jo 1.12; 1Pe 1.23). É por meio do “novo nascimento” que temos acesso ao Reino de Deus (Jo 3.5), e após essa experiência espiritual, passamos a ser morada do Espírito Santo, que entre outras obras (Ele é o executivo da Divindade – ou o que “põe a mão na massa” – Jó 33.4), constrói o caráter de Jesus no homem regenerado e compromissado com a santificação.
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O Senhor Jesus é o “novo Adão” e o padrão perfeito do “homem de verdade”. Ele mesmo numa ocasião fez o seguinte convite para uma multidão: “…aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma” (Mt 11.29). O segredo para essa transformação ou “metamorfose” é o discipulado, é o “estar com Ele” continuamente (Mc 3.14). A Bíblia diz que o “rosto de Moisés brilhava” (Êx 34.35), porque ele permaneceu 40 dias na presença de Deus. Nós recebemos a “marca” do caráter de Jesus se andarmos ou se aprofundarmos nossa comunhão com Ele (Tg 4.8).
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As características do “novo homem em Cristo” estão descritas no “fruto do Espírito” (Gl 5.22-23), ou seja, quanto mais parecido formos com Jesus, tanto mais fiel/ reto, amoroso, controlado (domínio próprio), bondoso, paciente, bem-humorado, pacifico e integro seremos, e todo mundo quer estar perto de um homem assim. Vamos, pois “colocar à morte” o “velho homem”, com seus andrajos mal cheirosos e ensebados do pecado (Cl 3.5-9), e nos revestir o quanto antes, do “novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Cl 3.10-17).
CONCLUSÃO:
Inegavelmente o mundo (“sistema”) exerce influência muito forte sobre a igreja (Rm 12.2), sobretudo em relação ao modo de falar, se vestir, mas quando isso começa afetar o pensamento, e por conseguinte o caráter (comportamento), devemos nos preocupar. Os formadores de opinião, da mídia em geral, na sua maioria incrédulos, não respeitam valores cristãos e desprezam a Jesus, por isso o cristão genuíno deve se espelhar em modelos bíblicos, como Paulo (2Tm 3.10), e principalmente o Senhor Jesus. Ser “homem de verdade” é mais do que ser “macho”, e o servo de Deus não precisa provar sua masculinidade a ninguém, apenas cumprir o seu papel de homem, na sociedade, na família e na obra de Deus.
Pastor Walter Bastos